Lucas 24:14-16
Introdução:
A narrativa do caminho de Emaús acontece no mesmo dia da ressurreição de Jesus. Dois discípulos, tristes e desanimados, seguiam em direção a uma aldeia chamada Emaús, quando o próprio Cristo ressuscitado se aproximou e passou a caminhar com eles.
Era o terceiro dia após a crucificação. Muitos ainda estavam confusos, sem compreender plenamente as Escrituras, e por isso desacreditavam na ressurreição. O coração daqueles discípulos estava pesado: tinham visto o Mestre — aquele em quem depositaram fé e esperança, por quem haviam dedicado os últimos anos de suas vidas — ser humilhado, condenado e morto em uma cruz.
É importante lembrar que, para muitos que seguiam Jesus, Ele era visto como o libertador político de Israel, que vivia sob o peso da opressão romana. Assim, quando contemplaram a sua morte, experimentaram um sentimento profundo de derrota e frustração.
De certa forma, também nos vemos refletidos nesses discípulos. Há momentos em que caminhamos abatidos, cansados, decepcionados e até descrentes. Nessas horas, nossa visão fica turva, e não conseguimos perceber que Ele continua ao nosso lado. Ele está presente, mas não o reconhecemos, e assim como aqueles homens, nosso coração fica impedido de vê-lo.
Existem diversas coisas que podem fazer com que os nossos olhos se fechem para Jesus, e algumas delas vamos listar abaixo:
Religiosidade:
Mateus 15:8 e 9, Lucas 6:46
Existe uma grande diferença entre ser apenas religioso e ser verdadeiramente cristão. O religioso é aquele que segue uma tradição, cumpre rituais e pratica sua fé muitas vezes de forma superficial ou mecânica. Ele pode até crer em Deus, mas não se deixa transformar pela Palavra. Já o cristão é aquele que não apenas acredita em Jesus, mas decide viver diariamente segundo os Seus ensinamentos, permitindo que Cristo molde seu caráter, seus pensamentos e suas atitudes.
Muitos, no entanto, preferem servir a Deus do seu próprio jeito. Criam regras pessoais, práticas e tradições que pensam agradar a Deus, mas que na verdade não passam de um substituto para a verdadeira obediência. Esse tipo de religiosidade é perigoso porque mantém os olhos fechados para Deus e para o Seu agir. Enquanto nos apoiamos em costumes ou naquilo que achamos ser correto, deixamos de enxergar e experimentar o mover do Espírito.
Os dois discípulos no caminho de Emaús (Lucas 24) são um exemplo disso. Eles estavam tão presos às tradições do judaísmo e às expectativas humanas sobre o Messias, que se esqueceram das próprias palavras de Jesus: de que Ele precisaria sofrer, morrer e ressuscitar ao terceiro dia. O coração deles estava cheio de frustração, e seus olhos espirituais fechados, incapazes de perceber que o próprio Cristo ressuscitado caminhava ao lado deles.
Da mesma forma, quando nos deixamos prender apenas a uma religiosidade vazia — sem vida, sem comunhão, sem entrega — corremos o risco de viver a fé de maneira cega, sem perceber a presença de Jesus ao nosso lado. Ser cristão não é criar caminhos próprios para agradar a Deus, mas seguir o Caminho que é o próprio Cristo (João 14:6).
*explicação sobre dores*
Dureza de coração:
Mateus 13:13:16, Hebreus 3:15
O duro de coração é aquele que, mesmo conhecendo a verdade, insiste em resistir a ela. O endurecimento não acontece de repente; ele é resultado de repetidas escolhas de rejeitar a voz de Deus. Assim como o barro que, exposto ao sol, pode se tornar rígido e quebradiço, o coração humano, exposto à desobediência e à incredulidade, vai se tornando insensível.
Quando o coração está endurecido, a primeira consequência é a perda da sensibilidade espiritual. Já não enxergamos o agir de Deus, não ouvimos a Sua voz com clareza, e até mesmo os sentimentos mais nobres — como compaixão, arrependimento e amor — tornam-se abafados. É como se uma crosta fosse criada, impedindo o fluir do Espírito.
A Bíblia traz exemplos sérios sobre isso. O faraó do Egito, nos dias de Moisés, endureceu o coração mesmo diante dos sinais e milagres (Êxodo 7–12). O povo de Israel, no deserto, também se rebelava constantemente, mesmo após ter visto a provisão e a presença de Deus (Salmo 95:8–11; Hebreus 3:15). O coração endurecido, portanto, é sinal de morte espiritual: estamos vivos fisicamente, mas sem a vida abundante que o Senhor deseja nos dar.
Além disso, o endurecimento leva inevitavelmente à rebelião contra Deus. Em vez de nos submetermos à Sua vontade, passamos a viver segundo nossos próprios desejos. A obediência se torna pesada, a oração perde sentido e a Palavra já não encontra espaço para frutificar. Jesus falou sobre isso na parábola do semeador: a semente que cai em solo endurecido não consegue germinar (Mateus 13:19).
Por isso, precisamos constantemente pedir ao Senhor que nos dê um coração sensível e quebrantado. O profeta Ezequiel registrou a promessa de Deus: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne” (Ezequiel 36:26). Só o Espírito Santo pode transformar o coração endurecido em um coração disposto a amar, ouvir e obedecer.
As distrações:
Hebreus 2:1 e Provérbios 1:23 a 25
Muitas vezes não nos lembramos de algo porque, no momento em que ouvimos, não demos a devida atenção. Isso acontece na vida cotidiana: alguém fala conosco, mas estamos distraídos, pensando em outra coisa, e depois não conseguimos recordar. Da mesma forma, isso também acontece na vida espiritual.
Com Deus não é diferente. Quando não damos atenção à Sua voz, corremos o risco de perder direcionamentos importantes para a nossa vida. A insensibilidade em ouvir o que Ele nos fala não apenas afeta nossa memória espiritual, mas também ofusca a nossa visão. É como se os ouvidos fechados gerassem olhos turvos, incapazes de enxergar claramente o agir do Senhor.
A Palavra de Deus nos mostra que a fé vem pelo ouvir (Romanos 10:17). Ou seja, a nossa capacidade de crer, obedecer e permanecer firmes está diretamente ligada à forma como ouvimos a voz de Deus. Se ouvimos distraídos, sem atenção ou sem disposição para obedecer, corremos o risco de viver uma fé fraca, superficial, sem frutos.
É por isso que Jesus tantas vezes dizia: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (Mateus 11:15). Não basta ter ouvidos físicos; é preciso ter um coração disposto e atento. O problema não está em Deus falar — Ele fala de muitas maneiras, através da Palavra, da oração, de pessoas, de circunstâncias — o problema está em nós, que nem sempre prestamos a devida atenção.
Por isso, é fundamental cultivar um espírito atento e sensível à voz do Senhor. Isso exige disciplina: separar tempo para ouvir, silenciar distrações, meditar nas Escrituras e buscar aplicar aquilo que recebemos. Ouvir Deus é mais do que captar uma mensagem; é dar uma resposta. Sempre que Ele fala, espera de nós fé e obediência.
rodrigo.penasso@hotmail.com