Lucas 15:25-32
Publicado em 01/11/2025
Introdução
Em Lucas 15:25-32, encontramos a parte final da parábola do filho pródigo.
Enquanto o filho mais novo experimenta o arrependimento e o perdão do pai, o irmão mais velho se torna símbolo de outro tipo de perda: a de quem está perto fisicamente, mas distante no coração. Ele nunca saiu de casa, nunca desperdiçou herança, mas também nunca compreendeu o amor do pai. Sua atitude revela que é possível estar dentro da casa do Pai, participando de tudo o que é d’Ele, e ainda assim ter um coração endurecido, amargurado e distante da graça.
Essa parte da parábola nos alerta para o perigo de uma religiosidade sem relacionamento, de uma obediência exterior sem comunhão verdadeira. O irmão mais velho representa aqueles que cumprem deveres, mas não desfrutam da presença do Pai; que servem, mas não se alegram; que permanecem, mas não se transformam. Estar “em casa” não garante estar no coração do Pai.
03 características do FIlho que está perdido em casa
É filho, mas vive como escravo. Não desfruta das riquezas e da liberdade
Romanos 8:15
O filho mais velho estava na casa do pai, mas vivia como um escravo. Cumpria suas obrigações, obedecia às ordens e mantinha as aparências, mas seu coração estava distante. Ele fazia tudo certo — porém, pelo motivo errado. Sua obediência não era fruto de amor, mas de ressentimento e senso de dever. Enquanto seu pai celebrava a volta do filho perdido, ele se encheu de indignação e recusou-se a participar da festa.
Se o pecado do filho mais novo foi virar as costas para a cultura, a família e para o seu pai, o pecado do mais velho era o da omissão, o de não ligar para seu pai e de não protegê-lo. Na verdade, se pensarmos bem, os dois irmãos não amavam o seu pai, nenhum dos dois o respeitava a ponto de querer o bem dele, no fim, os dois eram egoístas e só pensavam em si.
Mesmo cercado pela abundância da casa do pai, o irmão mais velho vivia como se não tivesse direito a nada. Era herdeiro, mas se comportava como servo; tinha acesso a tudo, mas vivia como alguém carente e insatisfeito. Ele dizia: “Há tantos anos te sirvo, e nunca transgredi o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos” (Lucas 15:29). Essas palavras revelam um coração que serve, mas não se alegra — que trabalha, mas não desfruta. Assim também acontece com muitos que estão dentro da igreja: participam, servem, cantam, ofertam, mas ainda não entenderam o que significa viver como filhos amados. Permanecem na casa do Pai, mas não experimentam a alegria da comunhão, porque ainda veem Deus como um patrão, e não como um Pai.
A Bíblia diz em Romanos 8:15: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai.” O Evangelho não nos chama para o servilismo, mas para a filiação. Somos convidados a viver como quem pertence à família, com liberdade, gratidão e amor.
O irmão mais velho nos lembra que o maior perigo não é estar longe da casa do Pai, mas estar dentro dela sem conhecer o coração do Pai. O pecado do afastamento e o pecado da indiferença são igualmente perigosos — um nos leva para fora, o outro nos impede de entrar verdadeiramente.
É filho, mas vive com o coração amargurado. Não consegue amar seu irmão
João 13:34–35, Gálatas 5:14, 1 João 4:20–21
O filho mais velho irritou-se com a misericórdia do Pai. Em vez de se alegrar com a restauração do irmão, sentiu-se ofendido pela graça. A festa que celebrava o arrependimento do outro expôs o que havia de pior dentro dele: orgulho, inveja e falta de amor. Para o irmão mais velho, quem erra não merece segunda chance, e quem cai não é digno de perdão. Mas a misericórdia do Pai sempre escandaliza o coração endurecido, porque ela alcança quem, aos olhos humanos, não mereceria ser restaurado.
A Palavra de Deus, porém, é clara: “Aquele que não ama a seu irmão permanece nas trevas” (1 João 2:9). O ódio e o desprezo que ele nutria pelo irmão não eram menos graves que o pecado de rebeldia cometido fora da casa. Enquanto o mais novo se perdeu no mundo, o mais velho se perdeu dentro de casa — ambos estavam distantes do coração do Pai, um pela desobediência, o outro pela frieza.
O ressentimento que queimava em seu interior o isolou da comunhão. Ele não apenas se recusou a entrar na festa — recusou-se a participar da alegria do Pai. Seu orgulho o manteve do lado de fora, como alguém que prefere o direito próprio à graça divina. Assim, o mesmo Pai que correu ao encontro do filho pródigo agora sai da casa para suplicar ao filho religioso que também volte para o lar — não ao lar físico, mas ao coração cheio de amor e perdão.
Essa cena revela uma verdade profunda: há muitos dentro da igreja que, como o irmão mais velho, cumprem regras, mas não conhecem o coração do Pai. Estão próximos da presença, mas distantes da essência. O rancor, a comparação e a falta de compaixão os impedem de experimentar a verdadeira alegria do Evangelho, que é ver o perdido sendo encontrado e o morto voltando à vida.
A misericórdia do Pai sempre nos desafia a olhar para dentro e perguntar: será que tenho me alegrado com a graça que alcança os outros? Ou tenho permanecido do lado de fora, preso à minha mágoa, incapaz de celebrar o amor que restaura?
Faz parte de uma grande família de filhos, mas vive como solitário
1 João 1:6–7, 1 João 1:6–7, Filipenses 2:1–2, Hebreus 10:24–25
O filho mais velho representa aqueles que permanecem próximos fisicamente, mas espiritualmente frios e desconectados.
Está na casa do Pai, mas não tem comunhão com Ele — nem com os irmãos. Habita o mesmo lar, mas vive isolado em seu próprio coração. O filho mais velho representa aqueles que permanecem dentro da casa, porém não desfrutam da presença nem da comunhão. Estão perto no corpo, mas longe no espírito.
Assim também acontece com muitos dentro da igreja: participam das reuniões, conhecem a Palavra, servem com dedicação, mas não cultivam um relacionamento vivo com Deus nem com o próximo. Não desfrutam da alegria da salvação (Salmo 51:12), nem experimentam as consolações do Espírito Santo (Atos 9:31). Vivem cercados de irmãos, mas sentem-se sozinhos; cercados de promessas, mas com o coração vazio.
Jesus nos ensinou que o amor a Deus e o amor ao próximo caminham juntos: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração... e amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:37–39). Quando rompemos a comunhão com os irmãos, demonstramos que algo também se rompeu na nossa comunhão com o Pai. O apóstolo João foi direto ao afirmar: “Quem não ama a seu irmão, permanece nas trevas” (1 João 2:9).
O filho mais velho estava tão preso à amargura e à comparação que perdeu a capacidade de se alegrar com a restauração do outro. Seu coração endurecido o afastou da festa — e o mesmo pode acontecer conosco, quando deixamos o ressentimento e o orgulho tomarem o lugar da graça.
A verdadeira alegria não está apenas em estar na casa do Pai, mas em viver o coração do Pai — um coração que se alegra com a comunhão, celebra a restauração e se regozija quando os irmãos voltam para casa. O salmista declarou: “Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!” (Salmo 133:1).
Estar na casa sem comunhão é viver como órfão entre filhos. Mas quando aprendemos a nos relacionar em amor, a casa deixa de ser um lugar de dever e se torna um lar de alegria, graça e celebração.
rodrigo.penasso@hotmail.com